Virada Cultural – Palco Body Mods


A Virada Cultural é um evento que acontece anualmente em São Paulo, e traz 24 horas de eventos culturais por diversos pontos da cidade. A Virada, que completou cinco anos agora em 2010, traz sempre atrações para todos os gostos: dança, música, cinema, teatro, circo e etc. Por exemplo, esse ano o evento abriu espaço para um palco voltado para à modificação corporal, que ficou na responsabilidade e organização de Luciano Iritsu. A Galeria Prestes Maia “hospedou” o palco, assim como várias atrações, que falaremos mais a diante, e um público que se misturava entre profissionais, entusiastas e curiosos.
O que vale destacar de imediato é o fato das instituições governamentais que concebem a Virada Cultural entenderem as práticas da modificação do corpo como parte da cultura de nossa sociedade. Apenas nisso já temos um grande avanço e uma amostra de reconhecimento e respeito.
Na entrada da Galeria foi montado uma “sala aquário”, onde por 24 horas tatuadores se revezaram e mostraram seus trabalhos e estilos. A sensação que se tinha dentro do aquário era um bocado surreal, era possível ver o Teatro Municipal e a incessante multidão que passava para olhar o que acontecia naquela sala de vidro. Entre os profissionais que mostraram seus trabalhos estavam André Cruz, Nicolas, Fernando Fefs, a futura mamãe Renata Giannoni, entre outros. Adentrando os espaços da Galeria era possível ver uma pequena exposição com informações, banners e fotos sobre as práticas da body mod. Mas era um pouco adiante que o palco estava montado e o público se concentrava.

Logo que cheguei pude ver o francês Lukas Zpira que era, sem dúvida alguma, uma das atrações mais esperadas do evento. Enquanto estava me arrumando no camarim, já fui informado que Zpira tinha ido embora e não se apresentaria mais. Fui tomado por várias questões e uma ligeira tristeza, afinal de contas, queria realmente ver o trabalho inédito do artista. Mas o evento segue, o palco alternava as atrações com suspensões corporais, bandas, dj’s e performances. Foram inúmeras suspensões e das mais variadas formas, suicide, knee, superman e assim por diante. Durante a madrugada do evento, apresentei uma sequência de performances com o duo Diva Muffin. Logo na sequência aconteceu o fantástico freakshow do artista Freak Garcia. Passávamos das 14 horas de evento, o sol já brilhava forte em São Paulo, acordando aqueles que dormiam embriagados pelas ruas da cidade. Aos poucos vão entrando no palco três corpos nus, era chegada a hora da performance “Aurora das máquinas abertas”. Filipe Espindola, Sara Panamby, Rafael Rosa e os músicos do ORBE preencheram cada fresta daquele imenso salão, com uma beleza e força quimérica. Os artistas se perfuram no palco, lentamente cada qual ganha sua posição e alcançam o ar. Não eram mais humanos, eram deuses. Se transformaram em máquinas abertas da profundidade em ser.




A nudez é trocada por longas saias, que mesmo com os performers suspensos ainda tocavam o chão, estabelecendo quase que simbolicamente uma intercomunicação entre Terra e céu, tangendo o sagrado. Em um dado momento o silêncio é quebrado com espamos e gritos da performer Sara, enquanto Filipe e Rafael lentamente balançavam seus corpos. Aos poucos assistimos os pés dos artistas tocarem o chão, era a anunciação do fim, imortalizado pela beleza em ser sutil e sublime. Na sequência comecei a preparação para apresentar a performance “Narcissus”, que é uma discussão acerca da beleza e auto-adoração do “eu” fragmentado pela sociedade de consumo contemporânea. O trabalho faz uso de diversas lanças, que é um elemento do Kavadi e que é pouco comum no Brasil.
Outra atração internacional bastante aguardada era a performance da artista argentina La Negra. De forma bastante delicada a performer é suspensa de uma cadeira e estabelece no ar quase que uma dança entre bolhas de sabão. Assistimos algumas cordas serem cortadas e mais alguns movimentos de La Negra, que logo toca o chão com o pés, recebe os aplausos do público, agradece e deixa o palco.
As suspensões não cessaram, somente depois de 24 horas de atividade é que chegava ao fim.
Algumas falhas organizacionais causaram um ligeiro desconforto no público presente, e para isso conversamos com o responsável pelo palco, Luciano Iritsu, para entendermos melhor o que aconteceu.
Independente das falhas, deixamos aqui nossos parabéns pela grande iniciativa e votos para que ações como essa se repitam em todo território nacional.

Entrevista como Luciano Iritsu, organizador do palco body mods:

 

T. Angel: Pela primeira vez na história da modificação corporal no Brasil se teve um evento com o apoio do governo e dentro de um contexto de discussões culturais. Em sua opinião o que mudou e o que muda na body mod pós Virada Cultural 2010?
Luciano Iritsu: Acho que ainda é cedo para dizer que mudou algo sobre arte corporal depois da Virada. Acho que tudo que fizemos na virada e também nos outros eventos sobre a arte, vamos ter retorno muito mais para frente. Fazer a Frrrkcon na virada cultural foi um passo enorme para a arte corporal, pois não li nada nos jornais falando mal ou comentários discriminando a arte, esse foi o ponto positivo. A mídia parou de tratar as pessoas que fazem arte com o corpo de uma forma diferente. O respeito é o primeiro passo pra se concretizar como forma artística a arte corporal, mas temos muito espaço pra conquistar ainda e muito trabalho pela frente.

T. Angel: Uma das grandes atrações do evento era a presença do francês Lukas Zpira que acabou não se apresentando. O que aconteceu?
Luciano Iritsu: Primeiro evento de grande porte sobre arte corporal no Brasil, falta de comunicação também. Erros ocorreram dos dois lados. Aprendemos bastante na virada e não haverá erro desse tamanho no próximo.

T. Angel: Numa quase totalidade, as atrações do palco atrasaram aproximadamente 2 horas o que gerou um desconforto no público. Comente:
Luciano Iritsu: Não teve atraso só no palco da frrrkcon na virada, foram mais de 800 atrações nessa Virada Cultural. Atrasos ocorrem em qualquer tipo de evento desse porte, por sorte conseguimos contornar os problemas que tivemos no começo. Problemas técnicos aparecem quando existem mais de 100 pessoas trabalhando num só lugar, no caso do palco da frrrkcon.

T. Angel: Qual a expectativa para o próximo ano? Haverá palco da modificação corporal novamente?
Luciano Iritsu: Como eu disse, aprendemos muito num evento desse porte, ano que vem espero que tenha sim, estou trabalhando pra isso acontecer. Já conseguimos o espaço uma vez. Mesmo com todos os incômodos que aconteceram nesse ano, o palco de arte corporal foi um dos destaques da virada, passando por várias mídias, saindo nos principais jornais, sites e tvs de São Paulo, temos que crescer cada vez mais.

Foto: Gui Almeida [nggallery id=18]

Foto: Rafa Gnomo [nggallery id=19]

Foto: Vinicius Leone [nggallery id=20]

CONTATO:
E-mail: artecorporal2010@hotmail.com
www.myspace.com/frrrkcon

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