Fotos: Gabriel Alejandro Padilla Riquelme
Gabriel Riquelme, autor das fotos que aqui compartilhamos agora e de tantas outras que ilustraram diversas matérias, compartilha um pouco de sua vivência e conhecimento sobre a história da modificação corporal contemporânea no Chile.
Ao ler o texto de Gabriel é importante termos em mente alguns pontos. Primeiro que o Chile assim como o Brasil foi colonizado pelos europeus, no caso chileno por espanhóis. Antes da chegada dos europeus no século XVI, o norte do Chile estava sob o domínio inca, enquanto os índios Mapuches habitavam o centro e o sul do território. Falamos isso, pois há ali um histórico de modificação corporal que antecede a colonização, assim como no Brasil.
Outro ponto importante, é que o Chile assim como o Brasil também passou por uma ditadura militar. Em 11 de setembro de 1973, o presidente democraticamente eleito em 1970, Salvador Allende sofreu um golpe de estado e o general Augusto Pinochet assumiu o governo, instaurando uma ditadura que iria perdurar por dezessete anos, isto é, até o ano de 1990. Ainda que tenha sido temporalmente menor que a ditadura brasileira, as violações dos direitos humanos, perseguições e mortes seguem o mesmo horror.
Elucidamos esses dois pontos apenas em caráter de contextualização, principalmente naqueles momentos em que se fala de conservadorismo e elo entre passado e presente. Abaixo reproduzimos o texto traduzido:
“Cerca de uma década se passou desde que junto de algumas pessoas começamos a adaptar a modificação corporal em nossas vidas, dando uma volta radical na visão que a sociedade tinha do protótipo de jovem que estavam acostumados a ver em seus entornos. Hoje, a atualidade de nossa sociedade ainda tem uma rejeição pela aparência física de alguém que simplesmente não cumpra os parâmetros da normalidade que eles estavam acostumados a ver, mas também tem sido demonstrado que por levarmos algo marcado em nossa pele – seja um metal, tinta ou outro objeto – temos os mesmos direitos e podemos fazer qualquer coisa exatamente igual ou até melhor que uma pessoa comum.
Daniel Maturana (Anoide)
Felipe Aravena Primitivo
Felipe Mutante Parraguez
Varuni Valeria Martinez
Em meados dos anos 2004 e 2005 o piercing entrou com muita influência em nosso país, a televisão foi o meio de comunicação que nos apresentou a muitas das primeiras perfurações nos vídeos de Aerosmith, Lenny Kravitz, Linkin Park, Korn e muitas outras bandas de rock que vinham ocupando seu corpo como um meio de expressão. Pouco a pouco a juventude daqueles anos começaram a perfurar ou tatuar seus corpos, sem medir muitas vezes as consequências que isto ocasionaria no futuro.
Em nosso caso, quisemos destacar por nossa aparência, a qual nesses tempos estão mais além de um piercing tradicional, nos representando como seres totalmente distintos dentro de uma sociedade tão conservadora. Começamos a utilizar alargadores em medidas grandes em nossas orelhas, tembetá em nossos lábios, implantes 3D e em alguns casos modificamos nossas línguas, cortando-a em dois como alguns repteis.
Eduardo Pizarro (Calaka)
Por agora a modificação corporal tem se expandido por todo mundo como uma forma de expressão e um estilo de vida, deixando no esquecido comentários que relacionavam esta arte como auto-flagelação humana. Estamos de alguma maneira fazendo uma conexão entre o passado e o presente. Mostrando uma arte corporal bastante similar as que distintas tribos fizeram há muitos anos, variando unicamente os procedimentos e as joalherias que utilizamos atualmente.”
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