Quebrando as regras: professor francês tem o corpo inteiro tatuado

O professor Sylvain posa para Frt Photo. Foto: reprodução / Facebook.

No Brasil quando uma pessoa não consegue um emprego por conta do seu corpo e subjetividade, tem um grupo grande que comemora (e se beneficia), outro grupo grande que justifica (culpando a pessoa) e mais um grupo grande que zomba de alguns tipos de trabalhos (como vendedor, atendente, etc…), logo o nosso país que amarga índices altos de desemprego e miséria. Mas existe também um grupo pequeno (do qual fazemos parte) que não apenas se recusa a aceitar passivamente a situação injusta da exclusão social, como tenta de todas as formas colaborar com a luta contra a exclusão de pessoas ao mercado de trabalho (e em todas as esferas da vida). T. Angel já escreveu sobre isso inúmeras vezes aqui no FRRRKguys, mas é sempre um assunto que retorna. Muitas vezes piorado, é verdade… Mas vamos seguindo dialogando. Quem sabe um dia aprenderemos. 

No texto Tatuagem, trabalho e preconceito… (2016), T. Angel explora a interseccionalidade para discutir a exclusão de pessoas ao mercado de trabalho por conta de seus corpos e subjetividades. Pontua as especificidades das modificações corporais, citando como referência o caso do professor doutor Vladimír Franz da República Tcheca, para nos mostrar que outras construções de mundo são possíveis. Trabalhando com oito tópicos, o texto buscou gerar uma reflexão sobre exclusão, inclusão e todas as discriminações que atravessam o espectro entre uma e outra coisa. 

Mais um caso chega para somar com toda essa reflexão. No dia 15 de Março de 2018 a imprensa internacional tem divulgado o caso de  Sylvain, um professor francês cujo o corpo inteiro – dos pés até a cabeça – é tatuado. O site de cultura pop de nome Konbini, traz uma matéria assinada por Jen Ripper que nos contou um pouco mais do que as fotografias do Instagram do professor fizeram. 

“Quando eu ando nos espaços públicos, as pessoas se intimidam. A primeira reação delas é abaixar os olhos, eles têm medo de me olhar“, contou Sylvain ao Kombini. Segundo a matéria o desconforto é porque na França a tatuagem ainda é ligada com anarquistas, contracultura e o mundo criminal. Não a mesma criminalidade daqui obviamente, mas algo como Yakuza.  E é importante trazer essa informação, pois ainda paira a ideia de que o preconceito contra as modificações corporais só existe no Brasil. 

Sylvain é um professor substituto do primeiro e segundo grau. A sua jornada com as tatuagens começaram depois dele se tornar professor. Ele contou ao Konbini, que depois de passar alguns anos trabalhando como professor em Londres, Inglaterra, ficou inspirado pelos corpos britânicos tatuados e ali mesmo começou a sua jornada entre tintas e agulhas. Ele ficou inspirado pelo fato das pessoas estarem confortáveis com seus corpos coloridos. Ao regressar para França continuou se tatuando, mas de modo que ainda pudesse esconder e quando acabou o espaço do corpo que era possível ocultar, tudo se tornou público e bastante visível. 

Consciente do seu tempo e mundo que está, Sylvain contou ao Konbini que sabe que 20 ou 30 anos atrás não seria aceito. Nesse sentido ele se  coloca conscientemente como testemunha de um tempo que está a mudar e onde a diversidade em sua mais extensa e infinita dimensão aos poucos vai recebendo o valor e reconhecimento que merece. Século XXI, sabe?

Além de professor, Sylvain trabalha como modelo e tem realizado inúmeros trabalhos com fotógrafos e profissionais do audiovisual, alguns podem ser vistos em sua conta no Instagram e Facebook (links abaixo). Ainda que exista uma limitação para essa área, ele segue ali abrindo novas brechas de um futuro que estamos a desenhar.  

E nós daqui perguntamos, que futuro você está a desenhar? 

CONTATOS
https://www.instagram.com/freakyhoody 

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REFERÊNCIAS
Tatuagem, trabalho e preconceito…
https://www.frrrkguys.com.br/tatuagem-trabalho-e-preconceito/

Teacher Covered In Full Body Tattoos Proves The Mold Is Breaking
http://www.konbini.com/us/lifestyle/sylvain-freaky-hoody-tattooed-teacher/