Foto: acervo Magoo Felix
“Sailors fighting in the dance hall
Oh man! Look at those cavemen go
It’s the freakiest show
Take a look at the Lawman
Beating up the wrong guy
Oh man! Wonder if he’ll ever know
He’s in the best selling show
Is there life on Mars?”
David Bowie
O freak show era uma exibição de pessoas raras e/ou populações subalternizadas, onde usualmente eram exploradas e mais desumanizadas por alguém que lucrava em cima delas. Atravessou os séculos XVIII, XIX e chegou no começo do século XX dentro dessa dinâmica. Posteriormente, em meados do século XX, passou a ser chamado de sideshow na América do Norte, ou seja, uma atração secundária dentro da programação dos circos e feiras, onde pessoas com modificações corporais (self made freak) ou que faziam diferentes usos do corpo se apresentavam. A análise aprofundada e mais detida sobre o freak show e sideshow renderia uma boa e importante reflexão e estudo. Por agora, somente pretendemos resumidamente contextualizar. Para quem quiser se aprofundar um pouco mais, recomendamos os filmes Freaks (EUA, 1932), O homem elefante (EUA, 1980) e Vênus Negra (Bélgica, 2010).
Os anos de 1990 no Brasil foram de muitas explorações sobre e com o corpo, sabemos da importância da década para as modificações corporais contemporâneas, principalmente com a chegada do body piercing, tal qual o conhecemos agora. Para aprofundar o conhecimento, recomendamos a leitura do livro A modificação corporal no Brasil -1980-1990 (Editora CRV, 2015).
Na virada para o ano 2000, São Paulo fervilhava no campo da cultura da modificação corporal e diferentes usos do corpo. E a festiva, fervida e intensa noite paulista foi atravessada, em diferentes momentos, por sideshows.
Os europeus Helmut e John Kamikaze do Kamichaos visitaram algumas vezes o nosso país para realizarem seus shows, chocando a imprensa nacional e, ao mesmo tempo, inspirado uma geração de pessoas ligadas com a cultura da modificação corporal e freak. A Revista Super Interessante publicou em 2002 uma matéria com o título Automutilação ao vivo e questiona se agredir o próprio corpo é arte.
Infelizmente os registros dos eventos são poucos os que foram tornados públicos, mas eles existem. Muitas plataformas online que exibiam imagens dos eventos, saíram do ar. O artista Magoo Felix que fazia as artes das atividades do Kamichaos no Brasil, compartilhou conosco um pouco de seu acervo e divulgou recentemente um vídeo da apresentação em sua conta no Instagram, que você pode ver CLICANDO AQUI.
A primeira vez no Brasil do Kamichaos foi em 1999, em parceria com o 7º Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual. A apresentação aconteceu no extinto Clube B.A.S.E., o espaço era voltado para população LGBTQIA+. Na ocasião, Magoo assistiu o show e posteriormente escreveu e ilustrou uma matéria para Revista Hype.
Anos depois o show voltaria, com articulação de Andre Meyer e registrado em imagens pela turma do Lost Art. Assim, em 2001 se apresentaram nos também extintos espaços D-Edge e Lov.E, e em 2002, na Tribe House.
Documentar as nossas histórias é um exercício constante. Inclusive, se você tem imagens dessas atividades na Terra da garoa e deseja compartilhar conosco, para que possamos compartilhar com mais pessoas, escreva-nos.