Fotos: Arquivo pessoal / Rafael Lima
Se a gente pensar sobre a história da modificação corporal no Brasil, temos que pensar na própria história do país de fato. A modificação corporal está presente nessas terras, mesmo antes dela receber o nome de Brasil. A carga histórica é muito representativa, apesar do conhecido desdém com que é tratada. Foi preferível nos reduzir ao país do futebol e do samba.
Dando um salto no tempo e pensando sobre essas práticas na contemporaneidade, podemos dizer que apesar do pouco tempo – algumas décadas – a história que está em construção em relação as modificações corporais se faz muito bela e fascinante. Assim como as personagens que estão construindo tudo isso.
Uma das características que muito nos interessa é a ocupação espacial com que a body modification, como fenômeno social, se fez na sociedade brasileira. Obviamente que com maior porcentagem de adeptos nos grandes centros, todavia, não permanecendo presa, com casos espalhados nas mais longínquas cidades brasileiras. Isso de fato é muito interessante de assistir.
Se a gente pensar a suspensão corporal, o esquema é muito parecido, mas não o mesmo, que no pordoem a redundância. Essas práticas estão soltas – mas não descontroladas – acontecendo do Sul ao Norte.
Uma das pessoas que bastante contribuiram (e ainda o faz) com a história das práticas da modificação e suspensão corporal no Brasil, é o Rafael Lima de Curitiba. Desde o ano 200o, ele vem experimentando procedimentos em seu próprio corpo e também atuando e manipulando os corpos de tantos outros.
É um dos responsáveis por uma das suspensões mais bonitas, intensas e dificultosas que aconteceram pelas terras brasileiras, para não dizer do mundo. Quebrou recordes nas alturas e ao mesmo tempo viveu uma das experiências mais marcantes de sua vida.
Atualmente trabalha como tatuador em Curitiba e esporadicamente se suspende. Tivemos a oportunidade de vê-lo suspenso no final do ano passado na FRRRKcon 000.3 e a felicidade que ele transmitia era contagiante deveras.
Reconhecendo a importância de Rafael Lima e sua contribuição histórica para as práticas da modificação corporal e suspensão, buscamos entrevistar esse profissional, que nos recebeu muito bem. Deixamos aqui o nosso agradecimento por compartilhar um pouco de si com todos nós e principalmente por tornar realidade os desejos de experimentos corporais de tantas pessoas.
Confira a entrevista logo abaixo.
T. Angel: Em caráter de apresentação, qual sua idade e formação?
Rafael Lima: Rafael Lima, 31 anos. Ensino médio completo.
T. Angel: Quando e como conheceu a comunidade da body modification?
Rafael Lima: Quando vi o Andre Meyer no programa da Band do Luciano Huck em 1997 ou 98 falando sobre suspensão. O programa era sobre superação. Esse foi meu primeiro contato realmente.
T. Angel: Quais os tipos de body mods você já teve e ainda tem?
Rafael Lima: Tenho 2 transdermais na testa, um implante 3d no braço e uma scar na barriga.
T. Angel: Você começou a trabalhar profissionalmente no meio em que momento?
Rafael Lima: No ano 2000.
T. Angel: Saindo um pouco da body mods e indo pra suspensão corporal, quando foi o seu primeiro contato com a prática?
Rafael Lima: Meu primeiro contato físico foi em 2002 quando fiz a minha primeira suspensão com o Luciano do Luc´s Tattoo. Mas antes já estudava a prática desde 2000.
T. Angel: Quantas e quais suspensões você já experimentou?
Rafael Lima: Mais de 15 suicides e Knees.
T. Angel: Você poderia nos dizer o que te motivou e ainda o faz a se suspender?
Rafael Lima: Pela sensação, quando me suspendo entro em um transe sem igual, me sinto intocável, invencível, a apenas um passo do paraíso. É como se toda a energia do universo estivesse dentro do meu peito e nada é impossível.
T. Angel: Tem noção de quantas pessoas mais ou menos você já suspendeu?
Rafael Lima: Mais de 20.
T. Angel: Como você enxerga a suspensão hoje no Brasil e também nos conte sobre suas impressões da prática de se suspender especificamente em Curitiba?
Rafael Lima: No Brasil a cada ano aumenta mais a prática e o conhecimento geral do publico, isso acho importante para a devida informação do publico. Mas ainda há muitos péssimos “profissionais” na área, que ajudam a difamar a imagem de quem faz certo.
E em Curitiba a cena é bem mais fraca, na minha opinião devida a falta de união dos profissionais da área.
T. Angel: Lembro de alguns anos atrás ter visto – e ficado impressionado – uma suspensão tripla em um guindaste. Hoje sei que você era um dos personagens desse dia memorável. Você pode nos contar quando e como aconteceu tudo aquilo?
Rafael Lima: Foi organizada por um dos melhores profissionais da área na minha opinião que é o Luciano do Luc´s Tattoo. Ele me convidou devido a minha performance na primeira suspensão. E foi sem dúvida a maior experiência que tive…
Enquanto estava suspenso a 60 mt era como se o mundo não existisse. Eu estava em um espaço aonde ninguém nunca esteve e pouco provável que vai estar, pois estar ao ar livre e a única coisa que me ligava a tudo era os ganchos em minha pele!
Eu parei por alguns instantes e comecei a meditar, esse momento foi muito intenso porque me desliguei por completo e não tem como explicar com palavras a sensação, mas posso garantir que muita coisa mudou desde que isso aconteceu.
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Batendo o recorde mundial nas alturas…
Segundo o Jornal TiraGosto, a suspensão no guindaste aconteceu no ano de 2003 em Balneário de Camboriú, Santa Catarina. O trio subiu por 60 metros de altura e permaneceram na ação por volta de 45 minutos, batendo o recorde mundial na ocasião. Nenhuma suspensão do tipo se repetiu no Brasil desde então.
Algo similar, no entanto com apenas uma pessoa suspensa e por coincidência também de nome Rafael, foi promovido pela National Geographic no ano de 2010 em São Paulo, como escrevemos por AQUI.
Pessoas interessadas em fazer algum trabalho com Rafael Lima:
http://www.addictionarts.com
https://www.facebook.com/pages/Addiction-Arts-Tattoo-Piercing/320551037980494