Em 21 de Junho será celebrado pela primeira vez no Brasil o Dia do Orgulho Freak. A data tem como objetivo fomentar o debate sobre diversidades, autonomia sobre o próprio corpo, despatologização de corpos e subjetividades dissidentes e promover a visibilidade e cultura da modificação corporal.
Publicamos AQUI no FRRRKguys dicas do que fazer para celebrar o dia esquisito. Somando com as sugestões, criamos uma lista de livros que podem colaborar com o entendimento das modificações corporais e diferentes usos do corpo.
Atualmente por conta dos retrocessos que estão acontecendo ao redor do mundo, muitas práticas e pessoas ligadas com as modificações corporais estão sendo patologizadas, criminalizadas e punidas. Mais do que nunca precisamos discutir as nossas práticas, não apenas para que elas se tornem mais seguras, como também possíveis.
Confira abaixo a lista que preparamos para vocês de livros em língua portuguesa, produzidos no Brasil e que você precisa conhecer.
Os livros estão organizados abaixo de acordo com a data de lançamento.
“Teorias da Tatuagem” (2001) é o resultado da tese de doutorado de Célia Maria Antonacci Ramos executada na PUC-SP e concluída em 2000. Trata da história e significados da tatuagem na humanidade, além de trazer uma análise do trabalho dos tatuadores “Stoppa Tatoo da Pedra“, uma loja de vanguarda em Florianópolis. O livro está esgotado, mas é possível encontrá-lo em sebos físicos e virtuais.
O corpo como suporte da arte – piercing, implante, escarificação e tatuagem (2005) corresponde à dissertação de mestrado de Beatriz Ferreira Pires realizada na UNICAMP em 2001.
É crescente hoje o número de pessoas que apresentam modificações corporais promovidas pela adoção voluntária de tatuagens e piercings. Neste revelador “O Corpo Como Suporte da Arte“, a autora analisa a disposição humana para automodificar-se, assinalando um fenômeno que, embora esboçado na história, encontra agora seu momento de grande voga, com implicações no comportamento em sociedade e na percepção de um tempo fortemente influenciado pelos avanços tecnológicos e pela experimentação. ‘Tudo pode transformar-se’, afirma a autora. E a construção do corpo conforme o desejo de quem o possui surge como opção da sociedade visual em sua busca da singularidade.
Suspensão Corporal – novas facetas da alteridade na cultura contemporânea (2010) está relacionada com a sua pesquisa de mestrado (2007) pela USP.
Ao iniciar a leitura de Suspensão Corporal, novas facetas da alteridade na cultura contemporânea, tinha claro que, quando chegasse ao seu término, deploraria mais uma vez nossa época atual, nossa cultura de massas, nossa mídia parasitária, nossos sujeitos subjugados e indiscriminados, enfim, os velhos clichês que proliferam no meio acadêmico. Ledo engano! A pesquisa de Daniel demonstra que os moders primam mais pela individualização do que pela indiscriminação. De fato, suas modificações corporais podem ser compreendidas como uma tentativa – bem-sucedida ou não, o julgamento nos é deixado em aberto – de distinguir-se da massa. Desse modo, passamos a olhar para os sujeitos em questão muito mais como singularidades ativas do que como efeitos previsíveis da massificação.
Lindo de doer – Piercing, viagens estéticas, eróticas e esotéricas é um livro lançado pela Editora Gaia. Um misto de autobiografia, relatos de viagens e cultura underground, adicionado à audácia e à coragem do autor André Meyer, um gaúcho de Porto Alegre radicado em São Paulo e cidadão do mundo. A obra também é a primeira a abordar artes corporais, piercings, tatuagens, assunto que até há poucos anos era um tabu. Para que suas histórias se transformassem em um livro, André Meyer contou com o texto de Tomás Chiaverini, um jornalista que possui em seu curriculum dois livros-reportagens e um romance. Pioneiro dos piercings no Brasil, o autor viajou o mundo em busca de referências em arte corporal. Na década de 1990, sentiu na pele a contracultura londrina, morou em Goa, na Índia, visitou retiros hindus, conviveu com índios no Xingu, participou de festivais religiosos às margens do Ganges e pagãos no deserto de Black Rock, Estados Unidos. Em suas viagens, chegou a trocar um All Star por uma cobra, suspendeu-se por ganchos cravados na pele, recebeu pragas e bênçãos de homens santos, quase morreu de fome, de intoxicações alimentares e de quedas de moto. Experimentou substâncias entorpecentes, descobriu a ioga e tornou-se vegetariano.
Corpo ao extremo – a nova face de uma cultura modificada (2012) é o resultado do trabalho de conclusão de curso (2010) em jornalismo pela UNIBAN de Nathalia Abreu e Priscila Soares. Segundo a autora deste livro, a modificação corporal do mundo contemporâneo se iniciou com a popularização da tatuagem. No entanto, aos olhos da maioria, ela atinge um nível bem mais extremo. Este livro é uma tentativa de mostrar um pouco do cotidiano, como são vistas, e como se sentem as pessoas que se modificam por meio de intervenções, sejam implantes subcutâneos e escarificações, ou a realização de suspensões corporais.
A modificação corporal no Brasil – 1980-1990 (2015) é o resultado da pesquisa de iniciação científica (2011) realizada por Thiago Soares no Centro Universitário FIEO.
O ser humano no decorrer de sua história interfere em seu corpo de diversas maneiras e acompanhado intrinsecamente de múltiplas justificativas. Seja como rito de passagem, como forma de expressar sua religião, penitência para purificação da alma, punição, privação, como forma de se expressar artisticamente ou por motivos puramente estéticos. Na história humana o corpo sempre sofreu alguma espécie de manipulação. Partindo do pressuposto de que toda cultura é construída, podemos dizer que o corpo assim também o é, e dentro dessa perspectiva, ele é uma construção que varia de acordo com o tempo e espaço em que está inserido. O respectivo trabalho de pesquisa buscou compreender historicamente a “construção” do corpo através das modificações corporais – tatuagem, piercing, escarificação, implante, dentre outras técnicas – na sociedade brasileira. Focando as décadas de 80 e 90, principalmente na cidade de São Paulo, que serviu como berço para o desenvolvimento, consolidação e propagação de tais práticas. Este trabalho tem como objetivo entender como e quando a tatuagem, o piercing, a escarificação, dentre outras manipulações do corpo, “retornam” à nossa sociedade e o impacto causado por elas. Corpos que antes habitavam o espaço das sociedades tradicionais ou o mundo da ficção científica, sem nos esquecermos do universo onírico, hoje coexistem com a grande massa populacional. Chifres, escamas, línguas bipartidas, aço e ossos e todo esse quimerismo possibilitado por essas práticas é o que constitui os sujeitos que compõem o tema aqui pesquisado e são essas pessoas que estão em plena atividade endossando a construção dessa história no Brasil.
Movimento de contestação ou agressão ao corpo? Uma discussão sobre a modification e a arte da performance na década de 90 é o resultado da pesquisa de iniciação científica (2009) realizada por Carla Ruiz Martin pela Universidade Cidade de São Paulo.
Este trabalho é uma análise do movimento estético intitulado Body Modification que toma forma no Brasil, especialmente em São Paulo, na década de 90, e de como a arte utiliza-se do corpo neste mesmo período, pouco após a saída do país de um regime militar, no qual a censura exilou muitos artistas que contestavam a sociedade. As formas de modificação utilizadas neste período, o choque que elas causavam nas pessoas e a forma como se popularizaram rapidamente, na mesma velocidade dos lançamentos tecnológicos e de mudanças de comportamento sócia, serão abordadas, assim como as diferentes visões de participantes sobre como algumas pessoas ainda pretendem contestar a sociedade atual por meio de manifestações artísticas e do uso do corpo.