Foto: Bruno Archie
A cultura de massa, com todos os seus tentáculos, faz com que criemos um ideal de corpo muito distante da realidade. Isso não é novidade, todos estamos cansados de saber, mas ainda assim as pessoas sofrem, adoecem e morrem buscando a perfeição física. O padrão eugenista ao qual – ainda – somos frequentemente bombardeados é o que vende e o que nos forçam a seguir como ideal. Nesse jogo em que o corpo é mero objeto do capital, pouco resta de humanidade.
Perceba que a negação do corpo – principalmente do nu – não é algo exclusivo da nossa contemporaneidade, muito pelo contrário. Pensando o processo histórico ocidental, desde a idade média é que o corpo vem sendo demonizado, negado, odiado, escondido e refutado. Ainda hoje os dogmas medievos movem parcelas significantes da roda da cultura humana, dentro de um processo de longa duração que talvez – quem sabe – um dia a gente possa falar que houve um rompimento. Por enquanto tudo ainda é muito interligado intimamente.
Em via oposta ao questionável “padrão de beleza” imposto pela sociedade, temos as pessoas que reivindicam o corpo como ele é. Sem photoshop, sem regimes absurdos, sem esconder as cicatrizes ou as rugas do tempo, sem grandes neuroses e despido de vergonha de ser aquilo que se é. Esse movimento de reapropriação do corpo tem crescido e se multiplicado nas redes sociais. Eles nos mostram que todos nós temos belezas particulares. Não importa se as revistas dizem o contrário. Igualmente não importa se aqueles que seguem – na maioria das vezes inconscientes – os moldes eugenistas de existência digam o contrário.
A exemplificar, o The Nu Project do fotógrafo norte americano Matt Blum, tem feito história com um trabalho muito bonito sobre a questão. Mais de 150 mulheres foram fotografadas nuas e em momentos casuais.
É meio absurdo que o senso comum não consiga ver naturalmente a poesia de um corpo nu, sem estabelecer ligação com o corpo sexualizado pelo capitalismo, isto é, o corpo objetificado. Se faz urgente que possamos conseguir olhar para um corpo nu sem a vergonha ou a sensação de pecado oriunda do cristianismo. Não é possível mais que continuemos tão alienados dos nossos próprios corpos.
Partindo dessa premissa e fazendo coro ao movimento de pessoas que buscam o retorno ao corpo, o fotógrafo curitibano Bruno Archie, que inclusive já esteve pelo FRRRKlog algumas vezes, escreveu um manifesto muito especial sobre tudo o que discutimos acima. Melhor que analisarmos o texto, o publicamos abaixo.
Menor pudores e mais amores, em resumo, acho que é essa a mensagem que Bruno quis transmitir. Nós igualmente desejamos o mesmo e fazemos coro.
“Somos inconscientemente vitimas da midia, constantemente expostos à valores estéticos limitados e por vezes irreais. Tentamos nos encaixar e quando não conseguimos nos frustramos, dando inicio a um processo de corrosão de nossa auto-estima.
Ha dois anos comecei a publicar fotos nu em meu antigo tumblr. Além de eu ser o modelo mais acessível para dar vida aos meus projetos, expor meu corpo é como uma “terapia de choque” para minha auto-estima. Não importa o seu biotipo, sempre haverá alguém que te acha atraente e alguém que te acha feio. É uma questão de preferencia individual. Não podemos agradar a todos.
Entre críticas e elogios comecei a ver que não era o monstro que a mídia me fez pensar ser. Aprendi a lidar com o tamanho das minhas orelhas, minhas coxas grossas, minha pele aspera, meus braços finos e meus testículos pequenos. Mesmo depois de tantas fotos expondo meu corpo e melhorando minha auto-aceitação, minha barriga ainda me incomodava. Mas acho que chegou a hora transcender o pudor e me aceitar por completo.
Não sou mais bonito e nem mais feio. Sou diferente.
Não tenho qualidade nem defeitos. Tenho caracteristicas.
Assim como todos.“
Para ler o original é só clicar AQUI. Tem mais fotos lindas e todo o trabalho do Bruno Archie.
Wow! Muito bom o texto! Sempre estou a refletir diante deste assunto mas o meu foco sempre era o corpo feminino, por questões de auto aceitação também. Andei vendo pela web um tumblr e um blog que mulheres comuns expunham partes do seus corpos e aquilo realmente me impressionou, sou uma daquelas que sempre se sentiu insatisfeita consigo mesma. E a repensar sobre isso, vi o quanto os homens também tem sua forma reprimida e muito mais difícil do que para nós mulheres que podemos falar abertamente sobre esse assunto, para os homens ainda existem tabus que os impedem de se expressar. É muito importante esse trabalho do Matt para o desenvolvimento da sociedade e da sua divulgação tb. Um grande beijo!
Vivemos numa época de culto à imagem do corpo, não ao corpo. Damos cada vez menos ouvidos à carne, só temos olhos para a imagem. Mesmo as modificações corporais rompendo diversos dogmas e padrões estéticos, muitas vezes essa preocupação só se manifesta na dimensão imagética, não do real. Muitas vezes é só parte do problema, mesmo que seja a outra face.
Olá, cheguei aqui pq tenho no corpo meu objeto de estudo, sobretudo relacionado com as manifestações corporais, o culturismo principalmente. Parabéns pelo post, são ótimas reflexões.
Caroline, quem sabe não possamos publicar algo em comum …