Ataque queer! Confira a poderosa programação do evento que acontece em Setembro

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Prepare-se para o Ataque!

Finalizando o ciclo de atividades Cidade Queer / Queer City, uma parceria entre a residência artística Lanchonete e a fundação canadense Musagetes, a Praça das Artes vira palco para uma batalha de dança que questiona as estruturas hegemônicas da cidade e a normatização de nossa sociedade. Ataque! é uma competição de dança inspirada na cultura de ball room consagrada em Nova York e que foi muito bem retratada no documentário “Paris is Burning”.

Wacking, twerking, voguing, e tantas outras formas de se expressar com o corpo serão exploradas para que o júri classifique as melhores apresentações em diferentes categorias.

A batalha é apenas uma das atividades que tomarão o dia. A partir das 14h, debates, oficinas e exposições acontecerão simultaneamente no térreo da Praça das Artes, que está localizada em um território simbólico para a comunidade LGBTQ. Entre o Anhangabaú e o largo do Paisandú, e perto da República e do Arouche, a Praça se torna o palco ideal para uma batalha de dança que questiona o binarismo de gênero em diversas formas.

O evento é gratuito!

E as inscrições para a batalha já estão abertas: https://goo.gl/forms/ncTW8H0WF108d4NF3

PROGRAMAÇÃO:

Batalha:

A batalha de vogue acontecerá a partir das 18h, na Praça das Artes, e está dividida em três categorias: Vogue, Bizarre e Runaway. As inscrições podem ser feitas pelo link: https://goo.gl/forms/ncTW8H0WF108d4NF3

O júri será composto por três representantes da cultura de ball room internacional, tendo já confirmados os nomes de Michael Roberson e “the Icon” Pony Zion, ambos de Nova York (que ministrarão uma oficina sobre a cultura de ball room norte-americana durante o dia).

A abertura da competição ficará por conta da performance “Freedom”, de Aretha Sadick. E a discotegem fica por conta de Tiago Guiness.

O tema da batalha será anunciado em breve! Fique atentx!

Conversas:

Para iniciar a programação do dia, haverão rodas de conversa sobre temas que foram discutidos durante todo o ciclo Cidade Queer:

14h – 15h – DESCOLONIZAÇÃO DO QUEER
O termo “queer” causa diversos questionamentos quando aplicado dentro de uma realidade latinoamericana. A palavra, que era usada de forma pejorativa por nações anglo-saxônicas para designar aquele que estava fora dos padrões da sociedade, foi ressignificada pela comunidade LGBT+ para uma estruturação teórica identitária. A partir daí, tanto a teoria quanto a palavra, tem sido constantemente usada sem encontrar uma correlata eficaz em outras regiões. E como diz a chilena Hija de Perra: “Compreendemos que não é o mesmo dizer na América Latina teoria bicha e dizer teoria queer, que por fim esse enunciado de fonética mais esnobe ajuda a que não exista suspeita a que se ensine essa sabedoria em instituições e universidades, sem provocar tensões e repercussões ao estigmatizar esse tipo de saber como bastardos. Podemos desfrutar do shopping queer em nossas latitudes?” O que seria, então, o queer em nossa sociedade? Como entender essa teoria em solos tropicais?

Participantes confirmadxs:
– Monstra Errátika (Jota Mombaça)
– Bibi Abigail
– Vitor Grunvald

15h – 16h – O CORPO E O DIREITO À CIDADE
A questão do direito à cidade não envolve apenas acesso à infraestrutura urbana para todas as classes sociais. Ela também diz respeito sobre como os nossos corpos atuam e são influenciados pela cidade. A percepção do espaço — principalmente público — é completamente diferente conforme a tua raça, a tua sexualidade, teu gênero, e tua classe sócio-econômica. Como se dá as diferentes vulnerabilidades em espaço público? Quais são as diferenças entre cada uso e quais as consequências desse molde? Quais mudanças seriam necessárias para que o direito à cidade respeite os diferentes corpos?

Participantes confirmadxs:
– Jackeline Romio
– Ariel Nobre (Revolta da Lâmpada)

16h – 17h – TERRITÓRIO E MEMÓRIA
São Paulo tem a característica de esquecer e o seu passado e se focar na construção de um futuro. Um futuro que nunca chega. As ruas, parques, praças e estruturas da cidade são modificadas constantemente, transformando a cidade em um grande canteiro aberto às especulações e demandas do mercado imobiliário. Há, porém, territórios na cidade que possuem o seu uso enraizado em uma determinada comunidade, como é o caso do Arouche e arredores para a comunidade LGBTQ. Em algumas discussões sobre políticas públicas para a cidade, se tem o argumento que a cidade é e deve permancer neutra. A questão, porém, é que a cidade nunca teve essa neutralidade estabelecida. A desigualdade entre territórios é evidente e uma constante preocupação. O que se fazer para preservar esses usos? Quais territórios foram modificados ou modificaram o seu uso por causa do mercado imobiliário? Quais mecanismos se podem pensar para evitar a modificação constante?

Participantes confirmadxs:
– Rede Paulista de Educação Patrimonial (REPEP)
– Nat Cout
– Bruno Puccinelli

17h – 18h – AIDS
Hoje, estima-se que cerca de 730 mil pessoas vivem com HIV no Brasil, ou seja, diagnosticadas e em tratamento. Mas existem outras 150 mil que provavelmente foram contaminadas e não foram oficialmente notificadas e, consequentemente, não possuem tratamento adequado para lutar contra o vírus. A crise da AIDS da década de 1980 teve grandes protagonistas no hemisfério norte para liberar medicamentos a tempo para salvar vidas de diversos soropositivos, mais notoriamente o grupo ACTUP de Nova York. A crise por lá teve, por causa desses diversos ativistas, grandes repercussões. Mas o que acontece(u) aqui no Brasil? Alguns acreditam que houve um enclipsamento da luta local por causa da fama que os grupos de Nova York tiveram. Isso é verdade? Outros argumentam que a repressão da ditadura preveniu qualquer forma de emancipação e articulação de grupos ativistas de minorizados, como o caso das mulheres, dos negros e dxs LGBT+. Qual é a historicidade presente na luta contra a AIDS no Brasil? Qual é a situação atual? Como foi a experiência de viver durante o auge da crise, quando se ainda precisava importar medicamentos para combater a doença?

Participantes confirmadxs:
– Flip Couto
– Teresinha Pinto

Oficinas:

14h – A TERNURA RADICAL EM UM CORPO POLÍTICO, com Dani D’Emilia
A ideia de sua oficina foca no corpo enquanto um lugar contraditório de noções de identidade, diferenças e desejos, trazendo a imaginação política, alianças afetivas e conhecimentos ‘outros’ para o centro da discussão/ação corporal, como expressão de ternura radical (pratica-conceito articulado em um manifesto criado em colaboração com Daniel B. Chávez). Pode a ternura ser radical? Pode o radical ser terno? (acessível pelo link: http://latitudeslatinas.com/download/artigos/ternura-radical.pdf)

Dani d’Emilia é performer transfeminista parte do coletivo La Pocha Nostra (EUA/MX) e do duo performático Proyecto Inmiscuir (ES/MX). Trabalha internacionalmente com projetos de performance, artes visuais e teatro.

15h – 18h – FÚRIA KUIR, com Jota Mombaça
Fúria Kuir é uma plataforma de compartilhamento de saberes e práticas ativistas entre pessoas dissidentes sexuais e de gênero na ex-colônia. Exercícios corporais, leituras coletivas, processos de escrita automática e fala situada, além da exibição de vídeos produzidos por artistas/ativistas sudacas, fazem parte do programa proposto por Jota Mombaça (Monstra Errática). A ideia é excitar perspectivas encarnadas, que levem em conta as histórias particulares de nossas corporalidades ex-colonizadas para um redimensionamento do referencial queer, importado do mundo anglo-euro-estadunidense pra cá na virada de milênio. A oficina tem duração de 3h.

Jota Mombaça, 1991. Ensaísta e Performer. É uma bicha não binária, racializada como parda, nascida e criada no Nordeste do Brasil, que escreve, performa e faz estudos acadêmicos em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir, giros descoloniais, interseccionalidade política e tensões entre ética, estética, arte e política nas produções de conhecimentos do sul-do-sul globalizado.

15h – A CULTURA DE BALL NORTE-AMERICANA
Nesta oficina de 1h30, Michael Roberson e “the Icon” Pony Zion, ambos de Nova York, contam a história da cultura de ball room e sua ligação com o emponderamento por meio do corpo de comunidades excluídas da sociedade. Michael e Pony explicam de onde surgiram os movimentos das danças, como eles foram reinterpretados por outros artistas, quais são as estruturas das casas (houses) ligadas à cultura de ball room, e como a dança surge como mecanismo de luta das comunidades negras e latinas de NY. Logo após, o legendário Pony faz uma oficina sobre os principais movimentos do vogue, waack e stiletto.

Michael Roberson é um profissional de saúde pública, defensor, ativista e liderança dentro da comunidade LGBTQ, assim como professor-adjunto da The New School University/Lang College, em Nova York. Comprometido com as discrepâncias de saúde de homens negros e homens negros dentro das House/ball communities, Michael criou a The Federation of Ballroom Houses (Federação de Ballroom Houses), co-criou único grupo estadunidense de pesquisa sobre gays negros, além do The National Black Gay Men’s Advocacy Group (Grupo de Defesa Nacional de Homens Gays Negros), e o Nationally Diffused CDC Behavioral Change HIV Prevention Intervention “ Many Men, Many Voices”. Foi também diretor executivo de uma das maiores organizações de base da conunidade gay negra e atualmente faz consultoria para diversas outras organizações comunitárias focadas em pesquisa clínica/biomédica sobre HIV. Desenvolve estratégias de mobilização e combate as disparidades desproporcionais nas políticas de saúde que impactam as populações gays negras e lgbt negras/latinas dentro das ball communities. Michael possui Mestrado em Divindade pelo Union Theological Seminary e recentemente concluiu seu Mestrado em Teologia Sagrada pela mesma instituição. Somando a todas essas papéis como ativista e liderança LGBTQ, Michael é um procurado palestrante nacional e internacional; gerencia o Vogue Evolution, um grupo de dança estadunidense que busca engajamento sobre justiça social e prevenção ao HIV através do Vogue. É pai de muitos homens e mulheres dentro da House/ball community, assim como co-instrutor do curso de história da House/ball community na New School University em Nova York. Sua atual pesquisa de doutorado relaciona de forma interdisciplinar ética teológica social/sexual e história afro-americana. Ele é membro do coletivo de arte sonora internacional Ultra Red e foi Scholar in Residence no Center for Race Religion and Economic Democracy (CRRED) da Union Theological Seminary no ano acadêmico de 2014-2015. Continua a ocupar essa posição fora da insitituição sob a direção de Charlene Sinclair, doutoranda, líder comunitária, pesquisadora, criadora a fundadora do CRRED.

The Icon Pony Zion Garcon: nascido e criado nas agitadas ruas do Harlem, Devon “Pony Zion” Webster tem dedicado sua vida à dança desde seus 10 anos. Coreografou diversos artistas como a cantora de R&B Ashanti, a cantora Lil Mo, o músico Shaggy, o artista de hip hop Big Pun (1971-2000), a estrela do RAP Remy Martin, a artista pop premiada pelo Grammy Fergie, o rapper Big Sean, e também uma das cantoras mais bem-sucedidas de todos os tempos, Mariah Carey… Sim, seu sucesso não para aqui. Pony também dominou a arte do Vogue, um estilo de dança que tira proveito e mostra os contornos do corpo através da exacerbação da flexibilidade e da elegância. Hoje, já como uma lenda do Vogue, é um dos fundadores do Vogue Evolution – grupo que participou da quarta temporada do programa da MTV America’s Best Dance Crew –, primeiro grupo de dança negro/ latino abertamente gay e transgênero. Pony está atualmente viajando por todo o mundo performando, dirigindo artistas, fazendo direção artística de “bailes de celebridades” e ensinando Vogue para aqueles que tem interesse pela Ballroom culture.

Exposição:

LABORATÓRIO GRÁFICO DESVIANTE
Como podemos representar KUIR? Tem KUIR um gênero? Podemos traduzir a palavra KUIR, já que em línguas latinas, como português, espanhol, francês e italiano, temos que associar verbos e substantivos a um gênero? A ideia do Laboratório Gráfico Desviante baseia-se nestas questões e propõe investigar possibilidades de representações para KUIR através de imagens, palavras e textos. É criar uma representação de algo que não existe em nossa categorização binária conservadora.

POPUP STUDIO, com Ajamu Ikwe-Tyehimba
O artista londrino Ajamu Ikwe-Tyehimba montará um estúdio de fotografia móvel para retratar, principalmente, os corpos negros que participarem das atividades. Os belíssimos retratos de Ajamu podem ser vistos em seu site:http://ajamu-fineartphotography.co.uk/

Ajamu é um aclamado artista londrino que trabalha predominantemente com retratos de homens negros, auto-retratos e imagens desenvolvidas em estúdio. Seu trabalho já foi exibido em diversas galerias e museus prestigiados, além de espaços alternativos ao redor do mundo, incluindo: Neuberger Museum (NYC) Tropen Museum (Amsterdam) Neus Gallery (Áustria) Schirn Kunstalle (Alemanha), Foto Institute (Rotterdam) ,Pinacoteca Do Estado (São Paulo) e Guildhall Art Gallery (Londres). Seu trabalho já foi publicado em uma variedade de publicações, revistas de crítica de arte, e materiais de campanha e faz parte de várias coleções privadas e públicas ao redor do mundo. Ele participou e realizou muitas oficinas de fotografia, palestras e simpósios.

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\\/// Mais sobre o Cidade Queer \\\//

Dar a um programa de atividades o nome de Cidade Queer se anuncia como uma ocasião para admitir que não definimos o que é Queer ou para imaginar que isso signifique uma coisa só e, então, perguntar abertamente como um futuro urbano Queer pode vir a ser ou parecer? José Esteban Muñoz começa seu livro Cruising Utopia: The Then and There of Queer Futurity [A utopia cruising: o momento imediato da futuridade queer], de 2009, com os seguintes termos: “queerness é uma aspiração rumo ao futuro. Ser queer é imaginar melhores futuros possíveis”.

Queerness é um termo amplo e que certamente pode ser vinculado a uma série de políticas e realidades LGBT+, e também a diferentes histórias, futuros e lugares. Dentro dos nossos objetivos, a Cidade Queer inicia a discussão de como vivemos e trabalhamos, compartilhamos e sobrevivemos na cidade contemporânea, tendo São Paulo como panorama. Assim, estamos igualmente interessados em reconhecer as bases comuns e entender contranarrativas. No texto “Queer Ecology: Nature, Sexuality and Heterotopic Alliances” [“Ecologia Queer: natureza, sexualidade e alianças heterotópicas”], Matthew Gandy compartilha a visão de Aaron Betsky, historiador da arquitetura, que afirma que o “espaço queer é um ‘espaço de diferença’, uma arena para dúvidas, autocrítica e para a ‘possibilidade de liberação’”.

Esse ponto de partida faz sentido para um programa que surgiu da parceria entre a Lanchonete.org e a Musagetes, através de sua plataforma online ArtsEverywhere.

Lanchonete.org é uma plataforma cultural tocada por artistas que toma emprestado o nome dos onipresentes balcões das lanchonetes — pontos de comércio amigáveis, sem barreiras, laboriosos e com suas luzes brancas — que ocupam todas as esquinas da cidade. São quase trinta pessoas participando do projeto, entre artistas, arquitetos, urbanistas, professores, estudantes, ativistas, integrantes dos movimentos de moradia, jardineiros, jornalistas e outros, e esse número não para de crescer.

A Musagetes é uma organização filantrópica canadense que trabalha em cidades do mundo todo para fazer com que a arte assuma um papel mais central e significativo nas vidas das pessoas e em suas comunidades. Isso se dá através do desenvolvimento de plataformas e projetos artísticos que experimentam maneiras pelas quais a arte pode se relacionar com o mundo que nos cerca e também criticá-lo. O site ArtsEverywhere é uma das formas de trabalho da Musagetes.

Lanchonete.org e a Musagetes se relacionam com o conceito de “direito à cidade”, cunhado pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre, que fala da “demanda por um acesso transformado e renovado à vida urbana”. Nosso objetivo é que pessoas das mais diferentes etapas da vida se sintam confortáveis em participar do iniciativa Cidade Queer.

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