Hoje pela manhã o jornalista e colunista Alexandre Garcia resolveu falar sobre tatuagem e arrependimento e em uma curta fala expôs o seu gigantesco preconceito contra as tatuagens. Abaixo reproduzimos sua fala e que também pode ser ouvida CLICANDO AQUI no site da Leouve.
“Bom dia, eu vou começar hoje com um assunto mais ameno. A senhora Kelma Maia em Rio Branco no Acre, ontem foi impedida de entrar num hospital privado por causa do vestido, que seria muito curto e por causa de uma tatuagem no braço. Diz ela que o atendente, o vigilante olhava para a tatuagem no braço dela pensando que ela fosse uma marginal. Queria falar sobre esse assunto, porque eu sempre estranhei que as pessoas se mutilassem, que é uma cobertura de pele com pinturas permanentes, em geral muito feias, que ficam parecendo sujeira. Agora eu vejo na Revista Oglobo do Jornal Oglobo, que agora começa muitas pessoas arrependidas, gastando um dinheirão para tirar a laser as tatuagens. Ao ponto de que clínicas já estão tendo planos de parcelamento em 12 meses para retirada de tatuagens. Tatuagens em que se gastaram o equivalente a 100 dólares para fazer e tão gastando agora 3 mil dólares para tirar. Quer dizer, gastaram R$300,00 ou R$400,00 para fazer e agora tão pagando aí R$10.000,00 para tirar. É gente que deixou de ir a praia com vergonha, né, vergonha de mostrar o que uma vez fez, sob sua própria pele. Gente que passou em concurso, aí conseguiu um emprego, mas não pode exibir aquela coisa horrível no braço ou no pescoço. Ou que pôs nomes de amores da época, amor eterno, e o amor mostrou que não foi eterno, foi passageiro, não é. Um médico cirurgião plástico me contou que certa vez foi procurado por uma senhora que queria tirar um dragão que havia sido tatuado no peito dela. Ele diz que não conteve a vontade de fazer gracinha com ela: “pois é, agora são dois dragões”. Quando a idade atropela a tatuagem. Vejam só, é bom que as pessoas pensem mil vezes antes de fazer algo permanente no próprio corpo.”
(Página principal do site Leouve)
Curiosamente o caso acima nos mostra que uma mulher reclama o fato de ter sido impedida por entrar em um hospital e pela sensação de ter sido marginalizada por conta da sua tatuagem no braço. O jornalista optou em ignorar essas questões e preferiu discorrer sobre o quanto considera horrível a tatuagem, em suma, reafirmando a marginalização sofrida por sua ouvinte. Veja bem, em tempos em que a Câmara Federal estuda regular o tipo de roupa usado por mulheres nas dependências das casas, além obviamente de todo controle compulsório sobre os corpos das mulheres, Alexandre Garcia não manifestou uma palavra. No mais, a senhora reclamou de ter sido impedida de entrar em um hospital, ou seja, usualmente vamos para esses lugares quando não estamos bem ou para visitar alguém que não esteja bem ou acompanhar alguém convalescente. Impedir a entrada de uma pessoa por conta de sua roupa me soa errado, para não dizer criminoso. Sobre isso, nenhuma palavra do jornalista.
As clínicas que parcelam a remoção de tatuagem com laser, são as mesmas que parcelam todo e qualquer outro procedimento, mas o jornalista quer soar como se fosse algo muito exclusivo e raro. Não, não é. Para Alexandre Garcia a tatuagem é uma mutilação do corpo, coisa feia que parece sujeira, e seu discurso com ares misógino e etarista sobre estética nos soa pouco ético. O que dizer sobre a piada dos dragões (acho que a intenção era “humorística”, mas não funcionou) feita pelo cirurgião e que ele endossa? Bem…
Obviamente que não nos espanta ouvir todo esse discurso rancoroso e conservador de Alexandre Garcia, conhecendo o seu histórico profissional (e pessoal), bastante famoso não só por ter estado na Globo mas principalmente por suas posições reacionárias. Por 18 meses, entre os anos 1979 e 1980, ele foi porta-voz oficial do “presidente” João Batista Figueiredo, o último carrasco da ditadura militar no Brasil. Enquanto uns lutavam contra o regime ditatorial e outros estavam presos ou no exílio, o “jornalista” defendia os “golpistas – com suas torturas e assassinatos, fechamento do Congresso Nacional, intervenção em sindicatos e censura” como nos lembra Altamiro Borges no texto ‘Alexandre Garcia: filhote da ditadura’. E nem vamos entrar no mérito do encontro do jornalista com Augusto Pinochet, ditador chileno.
Mas não é porque não nos espantamos que não nos sentimos agredidos e ofendidos pelas palavras do jornalista. Sobre isso, convidamos as nossas leitoras e leitores que também se sentirem agredidas e agredidos, para que escrevam ao jornal que veiculou o discurso.
Por fim, atualmente a tatuagem pode ser removida com o laser, por outro lado o pensamento engessado e reacionário do jornalista Alexandre Garcia parece não ter mais salvação. O típico caso perdido.
REFERÊNCIAS
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/09/camara-estuda-regular-tamanho-de-saias-e-decotes/
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/11/alexandre-garcia-filhote-da-ditadura.html
http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-pinochet-disse-a-alexandre-garcia-5663.html
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1299595750_ARQUIVO_artigoalgarcia.pdf