A Revista Viração é um projeto de educomunicação, criado em março de 2003 pelo jornalista Paulo Pereira Lima e filiado à Associação de Apoio a Meninos e Meninas da Região Sé. A Viração tem como missão promover práticas de comunicação, educação e mobilização entre jovens e adolescentes. Traz como grande inovação em termos de produção de mídia pelos jovens e adolescentes: o Conselho Jovem, composto por representantes de escolas públicas, escolas privadas, ONGs, fundações, movimentos sociais jovens etc. Os conselhos atuam em 24 capitais e reúnem, em média, de 10 a 15 jovens.
Corpos jovens nos espaços sociais é a sua edição de nº 115, que explora (e nos convida a explorar) o corpo em suas tantas camadas e nuances. A publicação traz textos produzidos por diferentes jovens sobre o corpo em movimento, corpos dissidentes e mercado de trabalho, corpos encarcerados, corpos que temem, entre tantas outras urgentes discussões sobre corporalidades e vidas. Inclusive reservando um capítulo para tratar sobre as modificações corporais, intitulado como Tattoos & intervenções corporais.
A matéria de duas páginas explica sobre as modificações corporais por um viés histórico, pontuando o seu caráter cultural. O texto passa ainda por uma explicação sucinta de algumas técnicas de modificação corporal (tatuagem, body piercing, escarificação, implantes e bifurcação da língua) e finaliza com o depoimento de um tatuador. Considerando o público para quem a revista se direciona, é louvável que esse material educativo esteja dentro de um apanhado tão profundo, honesto e crítico sobre os corpos.
A publicação analisa o corpo de modo interseccional e entra na categoria de textos que, em nossa modesta opinião, todo mundo deveria ler. A única ressalva que faremos, sem querer de modo algum retirar a qualidade e potência do material, é sobre a questão dos corpos modificados por sentirmos a carência de algumas pontuações.
Quando se analisa as intervenções corporais – históricas e culturais – o texto fala mais sobre as técnicas e pouco sobre os corpos que carregam essas intervenções e, por sua vez, suas complexas relações sociais que por tantas vezes são violentas. Comparando com os outros textos que problematizam as relações sociais com determinadas corporalidades, aqui ela acontece de modo distanciado.
Dentro da construção da identidade freak na comunidade da modificação corporal, por exemplo, essa é uma discussão latente, porque vivemos essas relações o tempo todo. Mas é estranho muitas vezes sentir que esse olhar para com a nossa cultura é – na maioria das vezes – esvaziado e que a nossa vulnerabilidade nem é percebida ou mencionada.
Nas matérias intituladas Corpos que temem existe a menção de vários grupos expostos à violência, no entanto, nenhuma menção aos corpos freaks. O que se repete nos Corpos dissidentes e o mercado de trabalho: uma relação conflituosa. As nossas especificidades – enquanto pessoas freaks – ainda não são visíveis, e muito frequentemente, nem mesmo para os outros movimentos sociais.
A nossa ressalva, como dito acima, é apenas para colaborar com a reflexão crítica sobre os corpos, todos eles de verdade. E repetimos: todo mundo deveria ler essa publicação, tamanha qualidade e variedade de reflexões sobre diferentes corpos e corporalidades.
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