Programa da Record discute a tatuagem no globo ocular

Foto: divulgação

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Quando ficamos sabendo que a Rede Record estava produzindo uma pauta sobre a tatuagem no globo ocular, pensamos logo: lá vem coisa ruim pela frente. Quem acompanha os nossos textos deve conhecer o nosso posicionamento crítico ao que vem sido produzido acerca das modificações corporais pela respectiva emissora. Principalmente o nosso repúdio ao tratamento leviano em adquirir imagens para fins jornalisticos e as reaproveitarem no programa Fala que eu te escuto, onde todo e qualquer senso de respeito passa longe.
Mas sabemos que alguns ainda se aventuram e concedem entrevistas e suas imagens para esse canal de cárater completamente duvidoso. Assim, eis que surgiu a pauta que iremos discorrer de agora em diante e que foi exibida no último domingo em rede nacional.
Antes da matéria ir ao ar, entramos em contato com o Rafael Leão, que por sinal sempre nos atendeu com muita atenção, pedindo considerações gerais acerca do programa, a resposta foi:

“Fui procurado por muitos repórteres de várias emissoras desde o primeiro procedimento em 2012. Eu venho me esquivando da mídia televisiva desde então. Semana passada veiculou no G1 uma matéria com meu nome vinculado a qual nem sabia que iria acontecer. Aceitei fazer a entrevista acerca do eyeball tattoo ao programa domingo espetacular… Eu tinha duas opções: cedia algumas informações acerca do que está acontecendo ou eles falariam o que eles acham. Fui breve, coloquei minha posição, as pessoas que me acompanharam colocaram a posição delas. Como eu disse mais de uma vez: eyeball tattoo não é para qualquer um e a pessoas que faz é ciente dos prós e contras.”

Aproveitamos para saber de Leão sobre o risco de ter a pauta replicada no Fala que eu te escuto, a resposta foi:

“Cara, o que os evangélicos pensam sobre bodyarte (Sic) e homo nao vai mudar. Porém, eu tenho 5 advogados na família e todos eles gostam muito de dinheiro. Eu deixei claro para o repórter que vou procesaar se postarem. Espero sair disso sem ser preso.”

Dito isso, com essa pequena introdução, vamos seguindo adiante. Estavámos esperando uma matéria bem ruim, como não poderia deixar de ser visto o histórico da emissora. Mas analisando o conteúdo geral, consideramos que a pauta foi menos pior do que a gente esperava. Trataram os entrevistados com respeito, apesar dos usos dos clichês básicos da grande imprensa, sempre tão despreparada para falar sobre body mods.
Houve espaço para todos se expressarem e se tratando de um tema muito delicado, a tatuagem no globo ocular, a presença de um oftalmologista foi crucial. O próprio Rafael Leão também considerou muito importante a presença do oftalmo.

Falou-se na matéria em pelo menos 13 pessoas que passaram pelo procedimento no Brasil. Não temos o número exato, mas sabemos que ele é maior. Emilio Gonzalez fez no fim do ano passado os olhos de quatro pessoas, inclusive três deles entrevistamos por AQUI. Rafael Leão sozinho teria feito mais de 13 do fim do ano passado até agora. Jefferson Saiint também já deve ter passado dos seus cinco clientes.

Também mencionaram erroneamente que a técnica surgiu nas penitenciárias norte americanas no começo do ano 2000. Bem, os primeiros olhos tatuados, com a técnica que está sendo usada por todos esses profissionais, de acordo com vários registros foi desenvolvida por Shannon Larrat em 2007 e aplicada por LunaCobra em 1 de Julho do mesmo ano. Fizemos uma entrevista exclusiva em 2008 com o profissional responsável pelo procedimento e você pode conferir AQUI. Somente depois disso que o procedimento foi parar na grande mídia, aparecendo em um episódio do CSI e no reality show sobre presidiários a qual a pauta fez uso.
Um outro erro grave da matéria produzida e exibida pela Record, que coloca em questão toda a pesquisa por eles feita e igualmente os dados apresentados, é em afirmar que apenas cinco profissionais fazem o procedimento em todo o mundo. Depois de LunaCobra tantos outros body modifiers começaram a trabalhar com o eyeball tattooing, a exemplo, Roni (Polônia/Inglaterra), Russ Foxx (Canadá), Emilio Gonzalez (Venezuela), Chance Davis (EUA) e a lista cresce, assim como aumentam as questões acerca da segurança e capacitação desses profissionais. Falou-se que Rafael Leão é a única pessoa no Brasil que faz o procedimento e a gente sabe que a afirmativa não confere, uma vez que Jefferson Saiint também o faz, como você pode ver na entrevista que fizemos com ele AQUI.

Rafael Leão contou na pauta da Record que em 2010 foi quando se falou sobre o procedimento no mundo, mas como a nossa própria entrevista de 2008 com LunaCobra mostra, isso já estava acontecendo desde 2007, com a execução dos três primeiros procedimentos.
Fora todos os tropeços de pesquisa que a pauta traz, existe a exibição de um vídeo de procedimento e aqui é onde a coisa fica realmente grave e séria. As imagens mostram a ausência dos cuidados asseptícos mínimos, a sequência exibiu Rafael Leão executando o procedimento sem camisa, sem máscaras, itens indispensáveis para qualquer procedimento no corpo. Se o eyeball tattooing em si já é questionável e demasiadamente cheio de riscos, assisti-lo sendo feito com tanta falta de segurança só nos deixa mais temorosos.

É certo que vamos ver e ouvir falar muito ainda sobre o respectivo procedimento e gostaríamos que a grande mídia brasileira fizesse uma matéria em que pelo menos a pesquisa tenha alguma validade. A que foi apresentada pela Record, como bem vimos,  só deixou a desejar.

Importante reforçar, apesar de todos os nomes dos profissionais que excecutam o eyeball tattooing e que apresentamos aqui, o fizemos apenas como amostra. Os nomes mencionados não se tratam de uma lista de profissionais recomendados. A nossa recomendação oficial é a de que não se deve tatuar o globo ocular. Nesse sentido fazemos coro com Shannon Larratt e sua FAQ publicada no BMEzine.

3 thoughts on “Programa da Record discute a tatuagem no globo ocular

  1. Mas uma vez, meus parabéns ao Frrrk Guys pela ótima matéria.

    Eu fico pasmo, como uma emissora de televisão, consegue manchar, até mesmo banalizar certas profissões, o jornalismo de hoje em dia não chega nem perto de algum exemplo para futuros profissionais, o que parece acontecer com os Modifiers.
    Tem uma palavra bem forte que gosto de exalta-la “Respeito”, tais profissionais deveriam ter mais respeito pelas suas profissões, ainda mais aquelas das quais se trabalham com vidas, tenham o minimo de consciência na hora de se fazer algo, pois você pode ajudar, como também prejudicar muita gente futuramente.
    Não preciso citar nomes, cada qual sabe da sua lição de casa.

    Sou um grande admirador da body-modification, não quero ver algo tão lindo, da qual muitos contribuíram e lutaram, acabe sendo jogado aos porcos.

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