O 1º Censo Brasileiro de Suspensão Corporal do Instituto Freak (IF) é uma iniciativa da plataforma FRRRKguys em parceria com o Grupo de Estudos Sobre Modificações Corporais (GESMC).
Buscou-se através dessa iniciativa conhecer um pouco mais sobre a prática e praticantes da suspensão corporal no Brasil. A pesquisa realizada eletronicamente aconteceu entre o dia 16 de Fevereiro a 16 de Março de 2017. O total de 88 pessoas responderam as questões e através dessas respostas conseguimos desenhar os resultados abaixo. A maior parte das pessoas que responderam o censo vivem em São Paulo, seguidamente por Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.
Confira os resultados detalhados:
Embora seja predominante a presença de pessoas cisgêneros, é importante perceber que outras identidades de gênero – além do binarismo – aparecem no esquema.
33% das pessoas que responderam o censo tem entre 21 e 25 anos de idade. A maioria delas alegaram que fizeram a suspensão corporal pela primeira vez aos dezoito anos de idade.
A maior parte dessa população se dividiu, economicamente falando, entre as classes D (35%) e C (32%).
As pessoas que optaram pelo Outro, em sua maioria se identificam como pardas, mestiços e morena. Nós não utilizamos o termo moreno/mulato/pardo como opções na pesquisa por serem considerados termos racistas pelo movimento negro. Esses termos sugerem “embranquecimentos” e “clareamentos”.
A grande maioria dessas pessoas atuam como profissionais da tatuagem e body piercers. No entanto, existem Biólogas, Redatoras, Designers, Artistas Visuais, Mecânicos, Fotógrafos e pessoas com variadas profissões que também fazem suspensão corporal.
A grande maioria das pessoas que responderam o censo não fazem parte de nenhuma religião mas acreditam em uma força superior, que varia entre Deus, deusa e o amor como a energia que movimenta e equilibra o universo.
Interessante perceber que menos de 50% das pessoas se consideram onívoras. Ainda que não seja regra, um dos cuidados que muitos e muitas profissionais da suspensão corporal tomam e indicam é justamente com a alimentação. Algumas pessoas acreditam que cuidando da alimentação nas vésperas de se suspender é possível potencializar a experiência, sensações e sentidos.
O preconceito contra a suspensão corporal ainda é muito forte. Segundo os dados da pesquisa ele é bastante forte dentro das próprias famílias, o que tem gerado briga, desconforto e violências, como a expulsão de casa. Muitas pessoas alegam serem insultadas pela internet e há casos extremos com ameaça de morte. Há muitos casos de ofensas que partem de grupos religiosos, alegando que a prática da suspensão é ligada com algum tipo de adoração ao demônio. A grande maioria das pessoas relatou que são chamadas de doentes mentais, o que é sobretudo uma tentativa violenta de patologização e uma forma autoritária de controlar o que o outro pode ou não fazer com o próprio corpo. Segundo os dados, o preconceito se manifesta, sobretudo, pela ignorância e completo desconhecimento sobre a prática.
Embora a prática seja considerada agressiva, violenta e arriscada, apenas duas pessoas alegam terem se machucado. O que indica que embora a prática seja segura (mais do que a maioria acredita ser), existe riscos e que podem ser intensamente reduzidos quando se procura um profissional capacitado para realizar a suspensão. Nunca faça uma suspensão corporal sem o devido acompanhamento profissional.
Ao que a pesquisa indica, a maioria das pessoas fazem mais de uma suspensão.
Cada pessoa busca a suspensão corporal por uma motivação. A grande maioria o faz pela primeira vez por curiosidade, como forma de autoconhecimento. A superação dos limites psicofísicos é um dos fortes motivos também. O mais interessante é que a maioria das respostas reforçam o quanto a suspensão corporal pode ser diversa. O leque de possibilidades é grande.
A maioria das pessoas dizem que a suspensão corporal alterou a forma com que elas sentem o mundo e olham para si próprias. Grosso modo o despertar da consciência corporal aparece de diferentes formas nas respostas e muitas delas apontam sobre um ganho de força e resistência.
Em uma escala de 0 a 10 para se entender a dor da prática, a maioria responde como 5. A dor da suspensão corporal é parte do processo, varia de pessoa para pessoa e também com a posição escolhida. Segundo os dados da pesquisa, a posição mais popular e menos dolorosa é a chamada Suicide Suspension.
Esperamos que com essa pesquisa possamos nos conhecer enquanto pessoas que partilham uma prática secular de uso do corpo. Esperamos também que possa ser um material informativo e educativo. E com isso, possamos ir desmontando gradativamente os preconceitos que pairam sobre a suspensão corporal. Nosso mais sincero agradecimento para cada pessoa que participou do censo e nos ajudou na divulgação. Ano que vem faremos o mesmo processo, com seus devidos melhoramentos. Nossas portas estão sempre abertas, sugestões são sempre bem vindas. Até 2018.
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