Revisitando o trabalho de Luna Cobra com o eyeball tattoo

Fotos: Luna Cobra

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Em 2008 tivemos a oportunidade de entrevistar o australiano Luna Cobra, que é o profissional responsável pelo procedimento do eyeball tattooing, tal qual conhecemos atualmente. No entanto, cabe dizer que o método de injetar tinta de tatuagem nos olhos foi inventado por Shannon Larratt, conforme aponta o site BMEzine.
Recomendamos o vídeo (inglês) abaixo de uma conversa sobre a técnica entre Shannon e Luna Cobra.

Apenas para rememorar, foi no ano 2007 que tivemos o primeiro registro da técnica aplicada e foram três as primeiras pessoas que tiveram os olhos parcialmente coloridos, Pauly Unstoppable, Josh Rahn e o próprio Shannon Larratt. Dos três o primeiro a ter os dois olhos completamente preenchidos, foi o Josh.

Infelizmente desse primeiro experimento os estudos foram interrompidos com as prematuras mortes de Josh em abril de 2010 e de Shannon em março deste ano. Que fique claro, a morte de ambos não estão associadas ao procedimento de pigmentação da esclera.

Pauly, que posteriormente anunciou publicamente sua transexualidade e alterou seu nome para Farrah Flawless, continua sendo prova viva sobre os primeiros estudos do eyeball tattooing. Inclusive é através dos olhos de Farrah que assistimos uma evolução da técnica do eyeball, onde pela primeira vez Luna Cobra utilizou duas tonalidades diferentes e inclusive criando uma espécie de desenho. Como podemos ver nas figuras abaixo.

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No período em que entrevistamos Luna Cobra, 5 anos atrás, o profissional acreditava que apenas 20 pessoas ao redor do mundo haviam pigmentado os olhos. Hoje – somente no Brasil – esse número já ficou para trás. Nos últimos anos, principalmente a partir de 2012, houve uma popularização da técnica, assim como aconteceu com a maioria das outras modificações do corpo. Ainda que em muitos casos, principalmente por uma formação vaga, com sérios riscos.

O trabalho de Luna Cobra não parou de se desenvolver nesses anos. Novas colorações, novas combinações de cores e principalmente nenhum caso de lesão foi registrado desde então. Apesar disso, não devemos desmerecer os cuidados e os riscos que a técnica traz. Lembrem-se da extensa F.A.Q feita por Shannon no BMEzine.

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Atualmente existem muitas pessoas fazendo o procedimento mundo afora, mas pelo que observamos, nenhuma outra pessoa conseguiu trazer tantas contribuições quanto o profissional australiano.

Conversamos novamente com Luna Cobra essa semana, um bate papo informal, mas que como sempre nos serviu como uma pequena aula. O profissional diz que ainda está tentando o visto para vir ao Brasil.
Ele acredita que o problema do eyeball tattooing na América do Sul e, na maioria dos outros lugares também, é que as pessoas não se importam em aprender a técnica de uma maneira mais adequada. O que pode acabar machucando muito gente no futuro.

Aproveitamos para conversar sobre o projeto de lei que pretende banir a técnica do Brasil, o profissional australiano disse que pelo motivo acima, talvez o banimento fosse bom. Explicamos para ele que caso o projeto de lei seja aprovado, os riscos só aumentariam, uma vez que qualquer tipo de estudo sério, pesquisa efetiva ou prática do procedimento não seria permitida. Nesse sentido o banimento não parece tão bom assim. A própria vinda de Luna Cobra seria cheia de riscos caso o projeto seja aprovado, uma vez que é de conhecimento geral quais os tipos de procedimento que o profissional realiza. O projeto de lei – se aprovado – impedirá todo e qualquer tipo de desenvolvimento do eyeball tattooing. Caso isso aconteça, perdemos muito, inclusive o direito da autonomia sobre nossas subjetividades.

Luna Cobra comentou também que não existe uma procura dos profissionais brasileiros em estudar e aprender a técnica com ele, mesmo com suas constantes demonstrações de interesse em vir para cá. O que de fato é algo problemático.

A vinda de Luna Cobra para o Brasil seria de extrema significância para todos nós. Acreditamos que se as pessoas que se interessam em trabalhar com essas técnicas de modificação do corpo se reunissem para trazê-lo, sairíamos do limbo que temos habitado nos últimos anos. A modificação do corpo no Brasil estacionou de maneira brusca nos últimos 10 anos, para não dizer vergonhosa.Em comparação com uma década atrás que havia toda uma atividade corrente com o trabalho de Andre Fernandes trazendo diversos profissionais estrangeiros para ministrar cursos e workshops, hoje vivemos o avesso disso.  O momento atual tem sido o de assistir colegas sendo caçados, denunciados, ameaçados e por fim, assistir o total impedimento de que aconteça um desenvolvimento benéfico das técnicas de se alterar o corpo. Se isso não preocupa você, deveria.

O trabalho de Luna Cobra, não só com o eyeball tattooing, tem muito para nos ensinar.  Fica aqui o alerta: ou a comunidade da modificação corporal muda sua postura e mentalidade e passe a atuar de maneira mais unida e madura ou esse desenvolvimento e aprimoramento que tanto falamos (e almejamos), vai ficar apenas em nossa imaginação.

A gente realmente acredita que as coisas podem ser diferentes, basta trabalharmos em parceria para isso acontecer.
Modificados, uni-vos.

CONTATO
http://lunacobra.tumblr.com/

http://www.lunacobra.net/

Referências
Sclera Tattoo
http://wiki.bme.com/index.php?title=Sclera_Tattoo

A sad and premature goodbye to Josh Rahn
http://www.zentastic.com/blog/2010/04/18/a-sad-and-premature-goodbye-to-josh-rahn

Finita, la commedia
http://www.zentastic.com/blog/2013/03/16/finita-la-commedia-3/

The eyeball tattoo FAQ has been updated
http://news.bme.com/2012/11/21/the-eyeball-tattoo-faq-has-been-updated/

The eyeball tattoo FAQ
http://news.bme.com/2012/10/18/the-eyeball-tattoo-faq/

3 thoughts on “Revisitando o trabalho de Luna Cobra com o eyeball tattoo”

  1. “Fica aqui o alerta: ou a comunidade da modificação corporal muda sua postura e mentalidade e passe a atuar de maneira mais unida e madura ou esse desenvolvimento e aprimoramento que tanto falamos (e almejamos), vai ficar apenas em nossa imaginação.

    A gente realmente acredita que as coisas podem ser diferentes, basta trabalharmos em parceria para isso acontecer.”

    o que mais me chamou atenção na matéria e que realmente esta faltando na cena da modificação corporal no Brasil.

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