Mais um ano chega ao fim. Um ano cheio de trabalho, mas também com perdas doloridas…
Acreditamos que 2014 foi marcado pelo começo de um processo de transformação importante e que tardou para acontecer. Pensando o nosso momento atual, acreditamos que o texto da retrospectiva do ano passado ainda é muito relevante, sendo assim, faremos uma reprodução abaixo.
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Precisamos voar mais alto, quebrar nossos limites, romper as barreiras que tem nos separado como colegas, como profissionais, como entusiastas de uma prática secular. Que o mote do(s) próximo(s) ano(s) seja a coletividade sincera entre todos nós. Do que adianta criarmos alianças com médicos e políticos quando quebramos com marteladas as alianças que nos unem como grupo. Por mais que nunca tenhamos sidos (e não somos) homogêneos enquanto grupo.
Nossas diferenças e diversidades devem ser uma ode para esse mundo cinza, uniformizado, pasteurizado, regrado e normal. Desejamos que possamos nos recuperar de todas as perdas que sofremos nos últimos anos e que tudo isso aconteça com muita humildade, respeito e responsabilidade com o outro. Que a apropriação dessas palavras e seu emprego em nossas vidas não seja apenas da boca para fora, que seja de verdade. A gente precisa ser de verdade.
Temos que ter a consciência de que TODOS nós perdemos com a aprovação de leis que oprimam a nossa liberdade e direito de decidir sobre nossos corpos. Todos, direta ou indiretamente, serão afetados. Todos seremos perdedores, inclusive quem nunca pensou em colorir as escleras.
O antagonismo que foi criado – e que tem sido bem alimentado por alguns – no seio da comunidade da modificação corporal tem que ter fim. Tem que ter fim pois ele é o retrato mais fiel do atraso, do retrocesso, da opressão e da mesquinharia humana. Como escrevemos meses atrás:
“Percebemos que se construiu (ou se acentuou) algo como a criação de subgrupos – antagônicos – entre body piercers, body modifiers e tatuadores. Acima de tudo percebemos uma resistência à prática e principalmente a fomentação de um discurso quase sempre conservador. Sobre isso escrevemos algumas linhas e você pode ler CLICANDO AQUI.”
Para finalizar repetimos algumas palavras que escrevemos em 2013, já que o espírito de retrospectiva nos permite a repetição:
“O momento pede ponderação, reflexão e principalmente muita troca e suporte mútuo entre todos. O tatuador deve lutar pelos seus direitos e deveres como tatuador, sem que para isso precise atacar quem trabalha com o piercing ou com modificações extremas. O body piercer deve lutar pelos seus direitos e deveres como piercer, sem que para isso precise atacar quem trabalha com a tatuagem ou com modificações extremas. O body modifier deve lutar pelos seus direitos como modificador, sem que para isso precise atacar quem trabalha com o piercing ou com tatuagem. É preciso lembrar que apesar das aparentes subdivisões categóricas, fim ao cabo o barco em que estamos é o mesmo. Se reconhecer como classe pode ajudar a fortalecer as nossas práticas e inclusive o seu respectivo reconhecimento profissional. “Não menos importante e principalmente reconhecer as nossas práticas como fenômeno social e cultural que acompanha a humanidade secularmente.”
Já que essa época do ano aproveitamos para fazer um balanço do que somos e do que temos feito, fica o pedido de reflexão sobre todas essas questões. Mudar de opinião, amadurecer ideias e reconhecer os nosso erros faz parte do nosso infinito processo de crescimento e evolução. Que todos possamos crescer.
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Abaixo uma lista que compõe a retrospectiva de 2014.
1. Foi ano em que o Steve Haworth veio ao Brasil e nos deu uma aula de humildade. Ensinando talvez mais do que procedimentos de modificar o corpo, aprimoramento da mente.
https://www.frrrkguys.com.br/cobertura-exclusiva-workshop-de-steve-haworth-no-brasil/
Recomendamos assistir a entrevista com ele também:
https://www.frrrkguys.com.br/especial-steve-haworth-no-brasil-entrevista-com-steve-haworth/
2. Foi o ano em que a body piercer Zuba, uma das primeiras profissionais do Brasil, voltou a ativa.
https://www.frrrkguys.com.br/e-a-zuba-esta-de-volta/
3. Foi o ano em que a Anvisa proibiu o uso da tinta Supreme. Ainda assim enfrentamos um esquema foucaultiano de “vigiar e punir” por parte dos próprios tatuadores com as demais técnicas de se modificar o corpo. Ainda assim enfrentamos uma desmobilização e fragmentação da comunidade da modificação do corpo, que finge que tudo vai muito bem, obrigado.
https://www.frrrkguys.com.br/anvisa-suspende-o-uso-da-tinta-de-tatuagem-supreme/
4. Foi o ano em que a imprensa nacional e internacional seguiu reproduzindo todo o tipo de preconceito e falta de conhecimento sobre as práticas de se modificar o corpo. Não apenas passando informações incorretas e reforçando estereótipos, mas também mentindo. Destaque para Band que foi responsável em exibir um dos piores e mais cruéis programas sobre modificação do corpo.
https://www.frrrkguys.com.br/catraca-livre-e-a-mente-presa-o-retrato-da-miseria-da-informacao/
https://www.frrrkguys.com.br/o-preconceito-contra-a-modificacao-corporal-ta-na-tela-da-band/
https://www.frrrkguys.com.br/qual-o-problema-do-catraca-livre-com-as-modificacoes-corporais/
5. Foi o ano em que lutamos contra o cyberbullying.
https://www.frrrkguys.com.br/uma-mensagem-para-a-menina-que-nao-conheco/
https://www.frrrkguys.com.br/jovem-sofre-cyber-bullying-por-conta-das-modificacoes-corporais/
https://www.frrrkguys.com.br/corpos-modificados-e-o-preconceito-cotidiano-na-cidade/
6. Foi o ano em que as modificações corporais incomodaram o menino da revista Veja.
7. Foi o ano em que as fronteiras e limites foram questionados por Little Swastika em um texto que precisa ser lido e relido.
https://www.frrrkguys.com.br/pensando-sobre-as-fronteiras-entre-modificacao-corporal-e-mutilacao/
8. Foi o ano em surgiu o GESMC – Grupo de Estudos sobre Modificações Corporais, que realizou encontros em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. O objetivo principal é pensar coletivamente os processos que rondam o corpo.
https://www.frrrkguys.com.br/encontro-em-curitiba-promove-dialogos-sobre-a-modificacao-corporal/
9. Foi o ano em que dermatologistas e profissionais da tatuagem trabalharam em parceria. Rogamos para que isso se repita mais frequentemente. Não precisamos criar embates desnecessários, enquanto podemos trabalhar juntos e viver em mundo melhor para todas as pessoas. Para todas as pessoas de verdade.
10. Foi o ano em que falamos inúmeras vezes sobre a questão de gênero dentro da comunidade da modificação do corpo, produzindo matérias que receberam muitas visualizações durante o ano.
https://www.frrrkguys.com.br/uma-conversa-sobre-corpo-e-genero-com-brandon-bec/
11. Foi o ano em que lutamos com todas as forças para tentar vetar o projeto de lei que pretende tornar crime a pigmentação do olho no Brasil. O que inclui a criação de petição online, palestras em diversos eventos pelo Brasil e envio de carta de repudio ao deputado autor do projeto.
12. Foi o ano em que nos despedimos do body piercer e amigo, Enzo Sato.
https://www.frrrkguys.com.br/luto-o-amor-e-a-resposta-nao-importa-qual-seja-a-questao/
13. Foi o ano em que Emilio Gonzalez nos fez pensar e repensar a comunidade da modificação corporal. Sublinhando a própria “guerra” que existe entre pares.
https://www.frrrkguys.com.br/uma-conversa-com-emilio-gonzalez-sobre-modificacoes-corporais-extremas/
Terminamos mais um ano, mas caminhamos para 2015 cheios de garra.
Desejamos boas festas para todas as nossas leitoras e leitores. Gratidão pelo suporte que recebemos e por nos acompanhar. Até já!
Amamos vocês. FRRRKguys team